Um fato que percebo sobre o Blind Guardian, e que me parece ser unanimidade entre as pessoas que escrevem matérias sobre a banda é que eles se sentem muito a vontade no Brasil, talvez pelo fato da plateia ser a melhor do mundo, pois canta todas as músicas e sempre chama a banda ao palco com um coral. Dessa vez não foi diferente, a casa de shows Via Funchal em São Paulo ficou lotada a espera desses talentosos artistas.
Antes do show o único inconveniente que alguns fãs (inclusive eu) passaram, foi o fato de no começo do ano, quando anunciaram a vinda da banda ao Brasil, fizeram a compra antecipada na internet. Nessa época o show estava anunciado para uma casa de shows chamada CTN, que não tem menor tradição em shows de metal. Após alguns problemas o show foi transferido para o Via Funchal (graças a Deus). Com isso os ingressos teriam que ser trocados, mas não podiam ser trocados na bilheteria, havendo a necessidade dos funcionários da casa de shows passarem pela fila conferindo o nome e entregando o tão esperado ingresso.
Antes dos bardos subirem ao palco, todos nós fomos agraciados com o show de abertura da banda nacional Brotherwood, que são chamados de bardos brasileiros. O som do Brotherwood é um power metal com passagens épicas e pomposas típicas do estilo, além da velocidade crua do speed metal, fazendo dessa forma um show que esquentou o público, pois a sonoridade, letras e melodia da banda, com certeza possuía influências de bandas alemãs (berço do power metal em minha opinião), como Grave Digger, Running Wild, Helloween, Gamma Ray e é claro Blind Guardian. Um fato bastante interessante no show do Brotherwood foi a presença especial do tecladista Fabio Laguna da banda nacional Hangar.
Após o agradável show de abertura que presenciamos a plateia logo se empavonava, pois em pouco tempo teríamos a atração principal no palco. Depois de uma pequena espera, pontualmente as 22:00 horas, as luzes diminuíram e se iniciou a entrada de uma música incrível do novo disco At Edge Of Time de 2011, chamada Sacred Worlds, uma música que creio que sempre estará no set list do Blind Guardian de agora para frente, pois ela realmente é perfeita para a abertura, grandiosa, pomposa, melodiosa, com uma parte instrumental muito cativante. Por sinal essa música faz parte da trilha sonora de um jogo de vídeo game chamado Sacred 2 - The Fallen Angel, possuindo em uma de suas mudanças de fase um clip com o Blind Guardian, onde os músicos foram digitalizados, recebendo armaduras, instrumentos fantásticos para tocarem a referida canção para uma plateia de anões, orcs e ogros. Toda a casa de shows cantou junto a Hansi Kürsh, que não parecia imaginar que teria tão calorosa recepção, portanto, uma grande noite estava por vir.
Logo após desse mais novo clássico, foi a hora de conferir um clássico consagrado vindo do início da carreira, proveniente do terceiro álbum do grupo Tales From The Twinlight World de 1990, um divisor de águas na história da banda, onde a sonoridade passa de um speed metal para o épico power metal, que lhes abre as portas para o mundo e essa música Welcome to Dying é uma das responsáveis pelo Blind Guardian ser a banda de power metal mais aclamada do mundo.
O público dava show, e Hansi Kürsh se sentia tão a vontade no palco, que deixa de lado a frieza alemã, correndo no palco, abrindo os braços, fazendo caretas, interagindo com o público de forma não esperada.
Antes de Welcome to Dying ele parou e comentou um pouco sobre a história da música, uma vez que a casa de shows, não estava lotada somente com os seguidores mais antigos da banda, mas também muita gente nova, que não teve o prazer de conhecer o Blind Guardian antes. O ritual de comentar as músicas continuou no decorrer do show.
Em seguida a inesquecível Welcome to Dying, é anunciada um clássico, oriundo do maior trabalho conceitual do power metal, Nightfall do álbum de 1998, Nightfall On Middle-Earth, álbum esse que faz uma leitura sobre o livro Silmarilion escrito por Tolkien (escritor de maior influência para o Blind Guardian). A música é poderosa, e faz mais uma vez, surgir um coral de quase 6000 vozes no Via Funchal.
Após isso entra em cena uma música com um caráter mais progressivo, do penúltimo álbum A Twist in the Mith, cantando sobre a lenda de Peter Pen, Fly, se demonstra ainda um pouco desconhecida do público, e um pouco complexa para ser tocada ao vivo, uma vez que necessita de uns efeitos de teclado. Nesse momento, as guitarras de André Olbrich e Marcos Siepen se embolaram um pouco, mas nada que pudesse estragar a noite.
Depois de Fly, outro clássico estrondoso do Blind Guardian é anunciado, chegou a hora de Time Stand Still (At Iron Hill), do álbum Nightfall On Middle-Earth, mais uma vez a plateia deu show, pois essa é uma música, que faz parte do top 10 entre os fãs da banda. Encerrada Time Stand Still (At Iron Hill) Hansi Kürsh, anuncia o maior clássico de mídia do grupo, uma música que possui um vídeo clip que chegou a tocar nos programas da MTV, era chegada a hora de Bright Eyes, proveniente do excelente Imaginations From The Other Side, álbum máximo da história do Blind Guardian. Bright Eyes é uma canção que tem que ser ouvida e não comentada, por isso é um dos maiores clássicos, não só desses alemães, mas do power metal como um todo.
Com a finalização da incrível Bright Eyes, Hansi Kürsh convoca a plateia para Traver in Time, outro clássico do álbum Tales From The Twinlight World, como percebe-se o set list foi baseado em canções clássicas de álbuns mais antigos da banda, tornando a noite em um espetáculo incrível, pois todas as músicas a plateia sabia cantar. Mas em seguida a Traver in Time, o grande vocalista anuncia uma música do novo álbum At Edge of Time, era a vez de Tanelorn (Into the Void), quebrando uma sequência de clássicos consagrados da banda. Não que Tanelorn (Into the Void) seja uma música fraca, pelo contrário, é uma canção que caberia muito bem em um álbum como Somewhere Far Beyond, Imaginations From The Other Side, Nightfall On Middle-Earth ou A Night at the Opera, mas acabou causando uma diminuição na empolgação do público se comparado com os clássicos, uma vez que o público ainda não estava familiarizado com a música, mas pelo menos o refrão que se mostra bem cativante e grudento, o público sabia muito bem, mostrando assim que o álbum At Edge of Time, precisa ser mais bem digerido pelo público, pois trás novas características ao som da banda, tornado o Blind Guardian numa banda com mais influências progressivas e de folk metal.
Falando em folk metal, lembramos de baladas, e essa banda é especialista em criar grandes baladas, e nada mais folk que uma história épica, era chegada a hora de Lord Of The Rings, inspirada na história de Tolkien. Essa balada, foi cantada por todas as pessoas que estavam presentes no Via Funchal, é uma música que é presente nos shows dos bardos há muito tempo, sendo mais uma canção proveniente do álbum Tales From The Twinlight World. Algo bastante legal dessa música é que ela sempre é cantada aos pulos pelos fãs, fazendo a casa de shows tremer literalmente!
Com o anuncio de Lord Of The Rings, previamos que surgiria uma sequência esmagadora de hinos do power metal. E foi isso o que aconteceu.
Após Lord Of The Rings é anunciado uma música que cada nove entre dez fãs da banda, classificam como top entre os clássicos, é uma música proveniente do segundo álbum do grupo, Follow the Blind de 1989, tendo na versão de estúdio a participação de Kay Hansen (lendário fundador do Helloween) dividindo os vocais com Hansi Kürsh, era o momento de convocar os deuses nórdico, era um dos momentos mais esperados da noite, era a hora de Valhalla. Essa música é tão amada pelos fãs, que quando ela termina, todos continuam a cantar, não havendo sequer um único seguidor dos bardos, que não se arrepiem só em citar o nome dessa bombástica música. Com certeza, para mim foi a realização de um sonho.
Em seguida uma surpresa para a banda, o público exigiu, cantou e pediu em alto em bom tom, uma música que estava fora do set list da banda, comovido com isso, o guitarrista Marcos Siepen fala com o resto da banda e afirma que iriam tocar a tão querida música. Essa era Majesty proveniente do primeiro álbum do grupo, Batallion of Fear (que por sinal tenho autografado) de 1988. Momento incrível, mostrando o quanto a banda ama o público brasileiro, ao ponto de adicionarem uma música a mais, na hora do show, por causa do pedido dos fãs enlouquecido. Realmente inesquecível!
Logo após Majesty, vem a enorme, progressiva, clássica e épica And Then There Was Silence, música com mais de dez minutos, única do set list pertencente ao álbum A Night at the Opera de 2002, tocada após uma sequência arrasadora, uma vez que Majesty é longa e Valhalla se torna grande também, devido ao público não parar de cantar seu refrão depois de terminada a música.
Com a árdua sequência, um momento para beber água, os bardos saem do palco por uns instantes. Enquanto isso se tem iniciada a entrada instrumental com características árabes de uma música do novo álbum, talvez uma canção que irá ficar no set list por muito tempo, era a hora de conferirmos Wheel of Time, em minha opinião uma das mais belas músicas do Blind Guardian. Wheel of Time é uma música longa, com muita orquestração e corais, demonstrando o que pode se esperar de novas canções dos bardos (além do que existe a promessa, já confirmada, de um álbum inédito de músicas orquestradas). Wheel of Time com certeza é mais um petardo do alemães, realmente uma grande música, perfeita para terminar shows.
Mesmo com essa música, ótima para encerramento, ainda não tinham sido tocados dois sucessos absolutos dos bardos. Um desses sucessos é a única música do set list pertencente ao excelente álbum de 1992 Somewhere Far Beyond, sendo uma balada extremamente bela, épica, melodiosa e mais uma canção que todas as pessoas presente sabiam cantar. Essa música, por incrível que pareça, para uma banda de heavy metal que possui velocidade e peso nas guitarras, ter como grande sucesso uma canção acústica, seria algo inusitado, mas The Bard’s Song – In The Forest, diria eu, é uma canção universal, uma música que qualquer público se emociona em ouvi-la, portanto, não é estranho uma banda que possui instrumentistas tão bons ter uma música desse nível. The Bard’s Song – In The Forest é com certeza uma das melhores baladas que existem, tanto em gravações de estúdio quanto ao vivo.
Para encerrar essa noite fantástica e épica, nada mais que um outro clássico, oriundo do maior disco conceitual de power metal da história do metal, essa canção era nada mais nada menos que Mirror Mirror do álbum Nightfall On Middle-Earth, um clássico arrasador utilisado sempre como encerramento dos shows dessa grandiosa banda.
Com isso o show se encerrou próximo da meia noite, garantindo o início espetacular de sábado, que com certeza foi embalado pelo eco contínuo das canções dos bardos alemães da cidadezinha de Krefeld.
obs: texto e imagens por Israel Ishell, do Nocturnal Tales.